Conforme descrito na Bíblia em Gênesis, Caim matou seu irmão Abel. Assim os filhos de Adão e Eva protagonizaram o primeiro homicídio da humanidade, motivado pela inveja que um sentia pelo outro.
O que motivou este sentimento é que enquanto Abel notadamente agradava a Deus com suas oferendas, o seu irmão obteve uma recusa com a mesma iniciativa.
Em Gênesis, 4, 9-10, podemos ver que Deus concedeu à Caim o direito de defesa, perguntando-lhe se sabia onde estava seu irmão. A resposta recebida: “Não sei; sou eu o guardião do meu irmão?”
Podemos observar que estabelecia naquele momento uma regra fundamental na justiça que é dar ouvido à parte, independente do que tenha ocorrido.
Não existem detalhes no Antigo Testamento do que motivou a recusa divina da oferenda de Abel e nem, tampouco, que tivesse havido uma defesa formal do acusado, como ocorreria se o julgamento ocorresse nos tempos atuais.
Mas Deus, na qualidade de presidente do júri, fez valer a sua autoridade e através da resposta obtida estabeleceu a sentença: que Caim partisse para o exílio à leste do Éden.
Se trouxermos o episódio para nossa época, possivelmente alguma “instância superior” poderia contestar a sentença, fazendo uso de argumentos para se interpor à decisão divina, inclusive questionando a pressa com que ocorreram os procedimentos – do crime ao veredicto.
Sem contar que para vigorar um julgamento nos padrões que temos hoje, se faria necessária uma abrangente interpretação dos fatos, compreendendo a motivação do homicídio e os detalhes da sua consumação, para enquadrá-lo na qualidade de qualificado ou privilegiado.
Mas, no contexto em que se deram os acontecimentos, prevaleceu a autoridade de Deus que fez valer o que entendeu como certo, deixando de fazer uso da lei dos homens que só entraria em cena muito tempo depois.